Imensidões

Há imensidões de nós que na calada da noite são transcendências avulso...

Thursday, October 27, 2005

Contacto

Perdeste a noção do tempo, tal como eu perdi a noção do estar.
Enrolaste-te em mil expressões, mas não sabes dos significados que alimentas.
Sufocaste
Resmungaste
Engasgaste-te...
E por fim soluçaste.
Faz tempo que te alienaste, as horas delimitam sempre esse distanciamento.
E as contas do meu rosário pararam, suplicaram razões, leis, e aí cedi.
Roguei desconhecimentos de sintaxes, mímicas e visionamentos, e abracei-me.
Deslumbrei ténues nostalgias, passados, imagens, situações, e aí comovi-me.
Desencontrei-me da inocência gaiata, e surgiram impurezas e ilusões... e senti-me crescer.
Sonhaste que era poeta, que, nas palavras gravadas na efémera presença do Eu, eras único.
Potenciaste patamares, deliniaste propostas e alcançares.
Amaste atracções, tal como eu em tempos gemia prazeres.
Parecias sentir mais, ouvir mais, sentias tremores nesses breves instantes, e aí sorrias.
Reconhecias os teus próprios olhos na turbulências do fumo e do extâse, tempos...
Apercebi-me
Suspirei
Convenci-me
Que na altura em que senti perder os laços que outrora me conectavam à norma que a mim impus, só queria escorrer uma lágrima.
Agora,
Sufoco
Resmungo
Engasgo-me
E soluço...
Os degraus indicam o caminho, se voltarei... se voltarei... aí só espero encontrar-me.

Friday, October 21, 2005

Da perfeição das coisas.

Para mim não há perfeições, não há esses níveis de classificação no dicionário que construí.
Para mim há outro tipo de abordagem às magnificiências que me deliciam, mas caio sempre no erro de no senso comum chamar-lhes "perfeições", mas não deixam de ser as minhas magnificiências, aquelas que só em mim fazem sentido.
E assim o que me faz sorrir, aqueles momentos cicatrizados na minha mente que me fazem extravazar de mim quando a eles recorro ficam aqui.
- O Taj Mahal, é um daqueles ícones à perfeição, é um daqueles sítios que me fazem realmente acreditar que é possível perder-me com a visão.
- The Highlands na Escócia, é outro daqueles espaços onde iria delirar, e acrescentando a banda sonora do Braveheart era sem sombra de dúvida uma perfeição.
- A escrita do Dickens em Grandes Esperanças.
- A magia visual do Senhor dos Anéis, o retorno à infância em À Procura da Terra do Nunca, a metáfora do Tempo em As Horas, o subir às mesas no final do Clube dos Poetas Mortos ao som de Oh Captain My Captain!.
- A praia de Caminha, a melodia ruidosa do mar, a Terra.
- A cumplicidade que se gera entre as pessoas, o processo, a intenção, o rumo, o desenlace, o clímax, tudo isso.
- O olhar de alguém que nos remexe cá dentro.
- A forma da magnólia, e o seu cheiro.
- A aurora boreal, uma estrela cadente, uma estrada iluminada perante mim.
- O riso de alguém que expande aquela felicidade; o sorriso duma criança; a sensação do conhecer estranhos conhecidos; a conjugação de sons musicais e o significado que têm em cada momento.
- A vida; o poder-se sonhar; a sedução, o prazer; uma folha a mando do vento; um pôr do sol daqueles...; a vida selvagem numa planície africana.
Um dia mais tarde, quando as horas decidirem dar-me um espaço e parar novamente por segundos, voltarei e acrescentarei aquilo que a vida me adicionou.

Friday, October 14, 2005

Das ondas.


Eu só me perco no espaço mais simples da história,
No mais complexo dos contextos.
Congelo-me nas brisas dum mar turbulento que ressoa ares de violência,
Fecho-me em mim, nos sentidos ocultos da visão.
E ecoas em mim: Eu só me quero perder no espaço mais simples da história, no mais complexo dos contextos..
Ontem perdi-me no vermelho, encontrei-me no cinzento,
Estudei a estrutura de copos de cristal, deliciei-me em nuvens de fumo
E senti-me bem assim, o estar alterado pacifica...
Hoje vagueio em areias que estigmatizo com o meu leve andar,
Tremo de frio, mas apetecia-me mergulhar na espuma destas ondas...
Murmuro que só me queria perder, queria poder distinguir formas ao longe na praia,
Queria saber correr de encontro, perder-me por ali, porque a praia é só minha hoje, não há ninguém que me encontre aqui, ninguém sabe...
Mas tudo é fantasia, é criação minha, e eu sou criação desses pedaços de tempo que decidi cravar na pele...
Porque o tempo é só mais um momento em que guerras eclodem cá dentro, como sempre...
E eu valorizo silêncios, gestos e estranhezas, mas deliro com proximidades, sonoridades e palavras.
Porque eu estou em toda a gente, e toda a gente em mim está. E eu não quero mais uma vez acordar sabendo que a solidão não abraça momentos, mas acolhe distâncias...
E eu rogo aos segredos das camufladas presenças que em mim se refugiam, que ai possa encontrar o alento que a esperança é um patamar não tão doloroso assim...
Porque te deixarei sempre ecoar em mim...
Caminha 13/10/2005

Sunday, October 09, 2005

Inspirações

Há personagens que fazem história, pelo menos no meu pequeno mundo elas tomam proporções gigantescas por diversas razões.
E elas possuem a virtude de despertar em mim momentos únicos em que a fantasia se funde com a realidade, em que se transpôem dos seus lugares comuns e actuam como inspirações ou medos.
Por isso aglomerei aqui algumas dessas personagens que não me deixam esquecer que é bom viver e também imaginar, e a razão porque possuem tal importância.
Indiana Jones - pela aventura, pelo desconhecido, pela coragem.
Einstein - pela loucura, pela imagem.
Charles Dickens - pela imaginação, pela escrita, pelo sentido.
Hannibal Lecter - pela representação, pela presença, pelo sarcasmo e ironia.
Homem-aranha - pelos momentos de infância, pelo heroísmo.
Ghandi - pela pacificidade.
Tio Patinhas - por todas as razões, pela comédia, pela aventura.
Monet - pela beleza, pela transparência.
Jesus Cristo - pela devoção, pela mensagem.
Marylin Monroe - pela imagem, pela sedução.
Peter Pan - pela história, pelo sonho, pela infância, pela magia.
James Horner e Howard Shore - pela música, pela sonoridade, pelos momentos.
J. R. R. Tolkien - pela fantasia.
Robin Williams - pela interpretação, pela performance.
E.T - pela infância e doçura.
Angelina Jolie e Charlize Theron - porque não têm palavras.
Veronica Guerin - pela coragem e irreverência.
Meryl Streep - pela interpretação.
Virginia Woolf - pela loucura.
Salman Rushdie e García Marquez - pela escrita.
Van Gogh - pelo jogo e subtileza.
Freddy Krueger - pelo medo.
Adolf Hitler - pela loucura, pela natureza human, pela ambição.
Sidharta Gautama - pela história.
Entre tantos outros.

Friday, October 07, 2005

As Horas ( 5 Estrelas )



'Dearest, I feel certain I am going mad again. I feel we can't go through another of those terrible times. And I shan't recover this time. I begin to hear voices, and I can't concentrate. So I am doing what seems the best thing to do. You have given me the greatest possible happiness. You have been in every way all that anyone could be. I don't think two people could have been happier till this terrible disease came. I can't fight any longer. I know that I am spoiling your life, that without me you could work. And you will I know. You see I can't even write this properly. I can't read. What I want to say is I owe all the happiness of my life to you. You have been entirely patient with me and incredibly good. I want to say that - everybody knows it. If anybody could have saved me it would have been you. Everything has gone from me but the certainty of your goodness. I can't go on spoiling your life any longer.I don't think two people could have been happier than we have been.
Virginia (28 March 1941)
“Dear Leonard, to look life in the face … always to look life in the face, and to know it for what it is. At last, to know it, to love it for what it is, and then … to put it away. Leonard … always the years between us, always the years … always … the love … always … the hours.”

Colisão ( 5 estrelas )


It's the sense of touch. In any real city, you walk, you know? You brush past people, people bump into you. In L.A., nobody touches you. We're always behind this metal and glass. I think we miss that touch so much, that we crash into each other, just so we can feel something.

Wednesday, October 05, 2005

Saber Estar

Da melodiosa forma de estar.

Estás porque estás, porque queres estar...
Estás porque acreditas, te sentes bem, te ultrapassa.
És porque supões, imaginas, vives, e resmungas.
Perguntas-te porque estás insatisfeito.

O encontro, o choque
Porque precisamos dum "outro", de sentir mais...
A necessidade de manifestação
Porque não se está bem, porque se quer marcar posição.

O saber-se estar é confuso, ambíguo,
É o reverso, o estranho mas conhecido...
O incontrolável mas natural, e o controlável enquanto ilusão.
É respeitar, aceitar, circundar e responder

É a profundeza do hilariante em tons momentâneos
É a natividade de dias já conhecidos e de noites mistério.
É ser-se a areia num relógio exótico, e controlar-se ou exceder-se
É querer ser mais, não estar saciado, é também incompreensão e desespero.

Saber-se estar é dilema, é somente e no fim de contas ficar-se.
Toma véus de resignação porque somos impotentes ou pequenos.
Toma cores porque gostamos de pintar as nossas obras de arte, os segundos.
Toma cadências de conformidade imposta, ou de inconformidade aceite.

E é saber-se estar
E é seduzir-se nas moléculas de volúpteis materias
É ser-se carne e saber o peso que a dor tem.
É agir, assim, normalmente, continuar, acreditar, prever e não se subestimar.
É estar-se na mais pacífica das formas, na mais disforme das presenças, é englobar-se, recolher-se, gemer e tremer,
É um conjunto de sintaxes, de melodias que sabemos compreender.
É um derradeiro encontro,
É a consolidação de tempos,
O desmanchar de conceitos...

Monday, October 03, 2005

Ares e Toques


Recorto as falhas do meu ser, analiso-as, inspecciono-as, choco-me ou fascino-me...
Olho para o que seria perfeitamente normal numa pessoa, e admiro-me, o mundo hoje faz todo o sentido....
Até parece que hoje as imitações, as cópias estão presentes em meu redor, o sol até já foi lua minguante hoje... não serei eu espelho de tudo, ou dum oposto?
Os sons das fonéticas criadas ressoam em constantes turbilhões e transportam-me. As falhas são só falhas? Não é?
A luz das esferas cintilantes tomam possessividades impossíveis de regressar, as ilusões da imaginação encarnam-me e não me deixam voltar. Só há um sentido obrigatório. E eu gosto, e eu fico...
A indecência dos sentires, o transparente do inspirar e a opacidade do expirar, consolam-me.
A delicadeza do que sou é assim, um fervilhar de intensidades, uma calmia de devires.
E nas passagens de escuro para a claridade haverá sempre algo que fala mais alto, que puxa, prende e reconforta.
E as mãos são tão mágicas aí, porque o toque, esse ou cria universos ou retira-os.
Há tantas janelas por abrir...
Há tantas divisões por explorar...
Tantos cheiros por classificar... ou pelo menos tentar...
Respira-me...