Imensidões

Há imensidões de nós que na calada da noite são transcendências avulso...

Tuesday, January 31, 2006

Sem título IV

Caminhas por pedaços de mar que nao encontram na imensidão o azul da tranquilidade
És fugaz porque retiras palavras dos silêncios ensurdecedores, e tornas-te corrupto
Julgas o oposto pelo conhecido, o conhecido pelo oposto, mas o que são ambos?
Procuras potências às quais retirar valores quando somente te delicia momentaneamente...
És tão humano e sabe-lo tão bem.

caminhas por pedaços de mar... quando da impossibilidade disso tens consciência, mas és utópico.

Sussurras dentro dessa parede de pele que algo não te chega, que o mundo é pouco.
És sarcástico e nada eloquente perante a magnitude da vida, e fazes-te de moribundo.
Falas do amor, mas não sabes que os olhares também se amam, e desvias o momento.
Negoceias com o medo, como que num jogo de xadrez, sabes que por vezes ele cede, outras não, e tornas-te cobarde.

E… e desperdiças coragens em copos de vinho sangue, desmoronas evidências em solidões de fumos bravos opacos.
Dizes ser capaz de cantar, da música só sabes a vertente da dança, mas a última ainda não dançaste. be yourself in this strange presence…

Ris e sorris, divertes e divertes-te, conversas e pensas, pensas e… paras.
Soubeste do caos? E do amor? Da paixão e do extasiante sexo, como? Não são só conceitos num dicionário, são presenças no quotidiano das cicatrizes que escondes.

És tão humano, e sabe-lo tão bem… és tão homem nessa pose, tão fraco nessas miragens assustadores que fazem de ti um falso místico, és tão de carne nesses orgasmos que anseias, tão sedutor nas perspicazes formas que moldas o sexo…
És horas, és momentos, números e formas…
És tão tu… tão eu…

“It’s better off with you, than here with me…”
Será?

Thursday, January 26, 2006

Do fumo

Ninguém me contou...
Da forma como ela se movia...

Esboçam-se pontos e interrogações de fumo,
O ar assim o permite ao cigarro, o ar comanda sempre algo,
(Não te preocupes em encontrá-la, ela já lá não está)

A minha querida tinha algo que mais ninguém tem.

Elucida-me das suavidades, das formas, das volúpteis curvas que tomas,
Falo-te tanto de mim, não em palavras, mas em instantes,
Já são por muitos anos que te trago como companheiro, já me conheces tão bem.
Só o tempo, se pelo menos murmurasse numa língua conhecida,
Podia eventualmente esclarecer, só o tempo.
Cigarro...

Quem me pode dizer? O entender do incompreensível... O perceber do inantígivel.
Do significado, do conceito, da importância, do sentido, da existência.
Por vezes és espelho, e demonstras, perante a sufocante realidade do mundo, o eu,
Lá nessas tuas formas que tomas, orador, secreto conselheiro, público refúgio. Fumo...

E nos entantos, nos entres onde comunico contigo, acerca da minha real ausência,
Da minha essencial procura, da tal querida de quem ninguém me falou.
Da suas também curvas desconhecidas, do sua não baça forma,
Da sua alegoria...
Da sua dança,

Porque a última, pelo menos hoje, é tua, a última dança do lume que em mim não se apaga,
Oh finito...!

Wednesday, January 18, 2006

Do Inglês


This time around
You can be anyone...
It's the simple things in life that makes the true senses of the self brightness,
It's the very moment in each minute of our lives that makes "carpe diem" to make sense.
It's the time that surrounds us, that screams blinks and kisses, hugs and contacts.
This time around, you can be anyone, one of this days, you can be other faces, beings, expressions, words...
Words...
Meanings and metaphors,
This time around, the sun will shine upon our feet, upon our horizons.
Let the sense make nonsense, let the true be anything else that a concept...
And let go of your wings, cuz you can be anyone... this time around...
Hoje tal como em outros dias, como em todas as vidas, estou bem disposto, e cheguei ao ponto de me sentar perante este ecrã e escrever em inglês, uma novidade para mim, uma novidade de mim, descobertas....
Que o dia seja tão bonito para vocês como está a ser para mim hoje. :)

Tuesday, January 10, 2006

Da Voz.

Suavizas os passos como se de pétalas de Magnólia se tratassem, ao longo da minha armadura de pele.
Fazes-me percorrer cada poro do meu corpo em busca de retalhos que de ti ficaram, algures, lá, cá.
Entras em êxtase nesse histerismo que só as cordas vocais conhecem, que só as teclas do piano encerram, que só esses sopros desvendam.
E desconheces o teu efeito, oh Medusa.
Sabes que me petrificas, e nem preciso de espelhos para me proteger, sou eu o que danço sozinho, assim ao interminável sabor da dança.
Adoro dançar, sabes tão bem, conheces-me assim, és a enciclopédia dos meus estados, sabes quando a ti recorro, sabes de quando de ti me refugio, do medo ou da alienação, da coragem ou curiosidade, são meros conceitos para ti, imponentes significados para mim. E tu reconfortas.
Sei que encerras a ambiguidade momentos, em que o corpo reclama os mais altos estádios.
E és música, és harpas e liras, és violinos e violoncelos, és as vozes de Adão e Eva, és as vozes dos meus anjos e demónios, e é acima de tudo os primórdios dos meus íntimos despertares.
És a cura, a doença, és a mescla de possessões, o miasma de interpretações.
Fazes-me sempre acreditar que as cenas congeladas numa qualquer película da sétima arte se materializam numa mente que não cessa de vaguear.
Diz-me só que me esperas, não me perguntes como me podes dar tais certezas, és só som, eu sei, mas espera-me.
Porque num qualquer momento da dualidade mortal és tu a Ninfa que me acolhe, és tu a Nereide que me despedaça, e nessa amálgama de presenças criativas e destrutivas constróis-me, e não saberás nunca, penso, como o cimento que em mim impões reinvindica novos altares, novos sacrifícios e no fim de tudo um novo Eu.

Thursday, January 05, 2006

Sem Título III

Emancipas-te em actos de deleites, em puras conversas, em cigarros incadescentes, mas lá no fundo nem sabes bem o que sentes.
Esboças sorrisos, alegrias, manifestas opiniões e sarcasmos, mas de ironia pouco vive a tua tranquilidade.
Incongruências dum acto singelo, instantes dum manifesto árduo.
Entregas-te à música como as gaivotas ao mar, vagueias nos percursos criados como os olhares perdidos numa rua atribulada.
E...
E tanto, e nada, e tudo ao mesmo tempo, e coisa nenhuma na real percepção do sentir. Inconstâncias.
Incompreensões, alienações. Dizes que queres fugir mas sentes os pés demasiados nesses momentos em que a mente vagueia por supostas fugas.
As drogas de que servirão agora? De presenças imponentes ou de estados deambulatórios, falsos e impuros? De melhorias? Ou de desgraças?
O amor sempre teve o altar dele, sempre, mas nem nesta altura a sua chamada por mim, pelos deleites de toques e corpos, torna-se inaudível.
Se eu ao menos pudesse acreditar no que vejo, no que lá fora as cores e pessoas despertam, aí, aí talvez... um talvez duma qualquer coisa que desconheço, mas que fortaleço pela importância do pensar nas possibilidades.
Porque pensar demasiado dói, porque não pensar "animaliza-me".
Porque querer torna-me ambicioso, porque não querer tanto torna-me sonhador e Ícaro, e da história dele toda a gente sabe.
Porque acreditar em algo faz-me crer na utopia, porque o não acreditar devolve-me o nada.
E o nada é demasiado pesado, um fardo demasiado hercúleo.
Porque quero tanto falar eu de mim? Porquê? Porque é que sempre o que escrevo é em torno de mim, e não das magníficas Tileiras por onde passo, e não das subtilezas extasiantes do mundo natural, ou dum sorriso duma criança, sobre alegrias e actos concretizados, de sonhos que não passam disso na cabeça de quem os vive, e que assim se sentem bem, porque na materialização o encanto perde-se. Porquê?
Porque eu na realidade penso demais nas coisas, porque não me conformo, porque sou um rebelde, porque sou um inconstante, mas um amante nato da vida, porque me irrito tal como todos, porque choro tal como todos, porque sou humano, e falho e tenho sucessos, só que o maior deles todos, ainda não alcancei, talvez seja mesmo ambicioso, talvez queira tudo duma vez, mas já tenho tanto, não me chegará?
Porque digo eu que não quero ninguém na minha vida, blá, blá, blá... quando na realidade quero tanto, quero mesmo que se lixe o passado, as relações que já vivi que agora somente vivem nos murmúrios de ventos antigos, quero mesmo amar, e nego-o.
Quero mesmo alcançar o maior de todos os bens, a tranquilidade e evito o caminho mais fácil. Complico, crio Equidnas e Quimeras e no seio duma fogueira crio conversas com os meu próprios monstros... e porque não acreditar neles? Penso eu.
Tudo é tão baço, estranho, irónico.
O afogar de tanto, o submergir de nada, no topo flutua cansaço, no fundo descansa a imaginação...
O cansaço funde-se comigo e empreendemos uma viagem pelo meio de sebes mais altas que qualquer esforço...
É sempre aí que paro e penso, é sempre ai, quando o cansaço consome, que paro e escrevo, tal como hoje, porque na realidade eu sei que seria tudo mais fácil se também eu facilitasse as coisas.
As drogas... serão elas a solução, os anti-depressivos e ansióliticos? Serão? Não serão talvez placebos? Ou uma cura distante? Uma realidade disforme, uma personalidade destronada?
Vou tentar, não confio muito, tentarei. O certo é que me sinto mais calmo, deixo a vida correr lá fora, deixo os amores vaguearem pela rua, e se por acaso uma brisa me despertar o íntimo, aí... aí talvez pare, descanse um bocado, expulse o cansaço que se abate sobre mim, e arriscarei, de qualquer modo o que é que custa, não é?
Tudo é simples por vezes, tudo é fugidio também, tudo é efémero, mas as sensações, essas, por mais momentâneas que sejam, cravam na pele, em tons de colossais memórias, as vivências...
E elas só me dizem que por mais que fuja, por mais que queira saber estar num qualquer lugar, esse saber estar invoca demasiadas transcendências. E só se sabe estar num único lugar.