Imensidões

Há imensidões de nós que na calada da noite são transcendências avulso...

Sunday, November 06, 2005

Armadura

Sufocas-me os braços, como se cruzam raízes desorientadas.
Proteges-me as pernas, como se houvesse tantos medos de se cair.
E só há preces inaudíveis nas brechas dessa suposta perfeição.
Evocas poesias e rimas, prosas e estrofes, líricas de harpas e violoncelos.
E no final o sol despoletará uma vez mais…

Manchas de fumos amestráveis, de odores baços,
Danças de salsa e tangos intermináveis
Lembranças. Memórias. Factos. Tanto… Tanto…

Permanecias incontestavelmente impenetrável, quase, quase...
Cedeste,
Quebraste,
Abriste brechas.

Havia valores que não o seriam por ti, outros houve graças a ti. Subtil traidora.
Fizeste-me crer que no mundo não se levitava, que no mundo ninguém ouvia gritos, mentirosa.
Juraste em monólogos íntimos que a impossibilidade é um conceito irrefutável, gananciosa.
Viveste o que querias sem querer perceber se o vivia também, e assim levaste-me o corpo, interesseira.
Impuseste momentos, segundos e horas de inércia, e proibiste-me de, egoísta.
E quem és? Minha segunda pele? Minha primeira aura? És fruto de ambiguidades, ou semente de certezas irredutíveis?
Sempre soubeste, fizeste-te de desapercebida, falsa.
Eu queria ser sonhador, ninguém voa, murmuravas tu.
Eu queria deleites de prazer e amor, tu querias sexo, carne e dor, puta.
Eu ansiava visões do Taj Mahal, de figuras mitológicas, de vicissitudes humanas, de sorrisos extremos, e tu fechavas-me em mim, cruel.
Eu amaria, tu arranjarias mil desculpas para não, esperta.
Eu agiria, tu potenciavas dores e fraquezas, manipuladora.

Aprendi,
minha armadura,
minha segunda pele,
minha primeira aura,
seja lá o que isso (ela) quer dizer,
És por vezes tão fraca como os monstros que me ensinaram a temer, quando em gaiato, ao apagar a luz, escondia-me da minha glória em lençóis pardos de suposições.

16 Comments:

  • At 1:46 AM, Blogger Margarida V said…

    uau que palavras, sensacionais. :)

     
  • At 3:21 PM, Anonymous Anonymous said…

    toda a gente sabe que é possivel flutuar (levitar). é disso q o amor é feito. é assim q uma pessoa sabe que está irremediavelmente apaixonada...

     
  • At 4:20 PM, Blogger Cristina said…

    hummm um novo look! Tá muito lindo...gostei:)
    beijinhuuu

     
  • At 7:01 PM, Blogger Walter said…

    Envolvente, sentido, verdadeiro, fantastico. Escreves de um modo que transpiras talento em cada palavra e me conduzes na leitura pedindo por mais, como se de sede se tratasse!
    um abraço enorme
    walter

     
  • At 9:15 PM, Anonymous Anonymous said…

    Querido Pedro, ficava agora sentada na cadeira, de olhos vidrados, a ler muito mais do que escreveste! É sempre fascinante vir até aqui, sentir esta intensidade que sai de ti, apenas de ti e daquilo que sentes, que os outros também te fazem sentir. Não permitas que ninguém termine com o teu mundo, pois ele é real, é verdadeiro e muito puro, especialmente para ti. Nada se baseia somente na frieza das coisas e numa forma nua e crúa de encarar o mundo... não! Existe muito mais... a coragem de acreditar, sonhar e viver com a alma alada!! Adoro a nova mudança!! Sempre lindo, tu!! =) Beijinhos confortantes***

     
  • At 1:21 AM, Blogger Eli said…

    Quando cheguei aqui pensei "Ei, enganei-me"... mas afinal há outro "Imensidões"?! Mas, logo me apercebi que trata-se do mesmo cantinho, teu cantinho que partilhas connosco e que agradeço desde já!
    Gostei muito do que li, não é um texto daqueles que saem só, é um texto bem escrito.
    Tens do dom da palavra!
    Ah! Obrigada também por ires colorindo os meus posts com os teus comentários que trazem sempre algo palpável!
    :)

     
  • At 1:23 AM, Blogger Eli said…

    Eu já flutuei!...

    :)

    Eu respondia-te a este texto, mas ia desmistificá-lo, por isso ficas apenas com a certeza que não há sonhos impossíveis, principalmente quando dependem de ti!

     
  • At 9:24 AM, Blogger Titá said…

    Envolvente, intenso, sensual, mágico...
    Poderia estar aqui horas a tentar encontrar a palavra certa para definir o que senti ao ler o teu texto, mas por certo nenhuma seria completamente justa. Obrigada e um beijo de boa semana

     
  • At 1:22 PM, Blogger Unknown said…

    Hey Dreamer :) Algum tempo sem cá vir e encontro um novo look no blog! Parabéns! E reparo também que as tuas palavras, apesar de muito bonitas e sentidas, continuam a espelhar alguma mágoa e tristeza. Escreves de uma forma sensacional com palavras e construções que se encaixam de uma maneira magnífica.

    Retenho: "És por vezes tão fraca como os monstros que me ensinaram a temer". Um retrato de quem pretende fazer passar o medo, mas que na realidade não passa de uma pessoa fraca. Nada como "2 berros" para afugentar o monstro. ;)

    Abraço

     
  • At 3:18 PM, Anonymous Anonymous said…

    Olá! Encontrei o teu blog e gostei muito! Vou voltar cá mais vezes!
    Continua a postar!
    *^*^*^

     
  • At 3:27 PM, Blogger vero said…

    Olá, só agora tive o prazer de conhecer o teu blog. Dei uma vista de olhos e devo dizer que gostei muito do que li!
    Vou voltar mais vezes!!!
    Beijinhos***

     
  • At 1:44 PM, Anonymous Anonymous said…

    Perco-me sempre na imensidão das tuas palavras, Pedro. Elas existem sem amarras e armaduras, soltas, livres para chegarem até aqui e me deixarem num estado de espírito em que poucas vezes fico. :-)

    Beijo doce

     
  • At 2:40 PM, Anonymous Anonymous said…

    Adorei este teu post...
    Vou passar mais vezes por aqui.
    A minha sincera admiração pela forma tão explícita como mostras os teus sentimentos.
    E olha que sou uma "quase" avozinha, que já li muito na vida.

     
  • At 9:27 PM, Anonymous Anonymous said…

    Pedro,
    Amei ler este texto. Pela crueza, pela força. Pela tremenda força.
    Porque por vezes comportamos em nós sentimos tão contraditórios, oscilantes. E eles vivem e consomem-nos até que um dia dizemos "basta" e seguimos um rumo diferente, um rumo mais nosso.
    No teu post li muita "Helena" minha mas tb consegui ler muito "Pedro" teu.

    «E quem és? Minha segunda pele? Minha primeira aura? És fruto de ambiguidades, ou semente de certezas irredutíveis?» ... gostei tanto desta frase...

    «Eu queria ser sonhador, ninguém voa, murmuravas tu.» ... ela, voz interna ou voz real, não tem razão. todos podemos voar sim, alguém um dia me disse para sentir as minhas asas quando o vento se agita e hoje, por vezes, sou capaz de respirar essa liberdade que sei que um dia vou abraçar em pleno. e tu tb, pq todos podemos...

    Desculpa ñ ter vindo mais cedo comentar. Tenho andado em frequências e um tanto mais irregular nas minhas visitas aos blogs. Mas o teu é sempre uma prioridade. Fiquei preocupada com o que disseste do psiq., espero que estejas bem agora Pedro. Sabes q qq coisa é mandares um mail ou um sms que eu oiço-te!

    Parabéns pelo template! Confesso que qdo mudei o meu da última vez ponderei em pôr este, lol... é muito bonito. sóbrio e sombrio. mas bonito :)

    Um grande beijinho *

     
  • At 11:00 PM, Blogger AntropoLógica said…

    Fantástico. :)

     
  • At 12:55 PM, Blogger Morfeu said…

    Essa Armadura no entanto será apenas uma segunda Pele, que não sente como a única e verdadeira. A Pele sente, sonha, arrepia, voa, transpira, murmura…a outra de aço não se deita por amor, apenas por prazer, sexo, carne e dor…Eu quero sentir apenas Pele... a minha e de alguém, sem armaduras, apenas Amor…

     

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