Imensidões

Há imensidões de nós que na calada da noite são transcendências avulso...

Thursday, November 24, 2005

Do que toca cá dentro...

Eu percorro tudo isto, porque nas ténues lembranças algo me grita e diz que sim
Porque me recordo de momentos, breves histórias que criei, elas imploram-me...
De que palavras me esqueci eu, e de que silêncios falei eu, se ao menos os tivesse entendido bem.
Fecho os olhos, sou consumido pelo negro, e depois... e depois tudo aquilo em doses estonteantes...
O escuro começa a dissipar-se e então surge vagarosamente o leito, os lençóis, as roupas alienadas.
E aí encontro-me na indecisão dum duplo compromisso, continuo assim ou abro os olhos
Deixo-me ser devorado por estas memórias que tanto me alimentam ou volto ao mundo real?Prefiro ser devorado, o que me espera nas memórias já eu sei, já eu vivi, já eu senti...
O escuro já nem é escuro, as velas já dançam em volta daquele leito e iluminam o espaço
Os copos já transbordaram desejos de proximidade e agora repousam.
A música já transpira sensualidade, sexualidade e miasmas de ares demasiado respirados
E lá está o corpo feminino, qual Vênus de Milo, as formas, os volumes, a perdição...
E lá estou eu também no leito, em frente, a admirar, a extravasar-me de mim próprio em mil direcções opostas
Prefiro ficar de olhos fechados, quero reviver de novo tudo aquilo, quer ser agora leitor de páginas já escritas...
Os corpos, os nossos corpos lá naquele regaço de exaustão, de deleite e de magnificiência.Os gritos, os húmidos, os sussuros, os múrmurios, os suspiros, os suores...
Tudo, tanto e tanto, sempre tanto, sempre mais para descobrir, um pequeno toque, um pequeno sussuro inerente a nós mas não ao tempo, um ligeiro húmido doce, os olhares trocados, os constantes orgasmos sentidos, sempre tanto.
Demasiado perto repito eu, demasiado perto é um limbo em que me delicio.
E a nudez um paraíso onde não residem pecados mortais, simplesmente fontes de vida.
As suaves pernas, o ameno peito, os exaustantes lábios, a sugadora face, os extasiantes cabelos, o reverente olhar.
Quero amar-te, ah se quero...Torna-me em mim, que eu em ti rogo por me tornar, deixa que nos fundamos, vamos ser nós.
O teu sexo, o teu ventre, a força da vida que possuis, o berço de tudo, inclusive de mim que aí me quero perder.
Os toques dizem que sim, o corpo aceita, o corpo move-se em gestos distorcidos, em ofegantes maneiras de estar, ser e sentir, o corpo quer mais, ele implora por mais, ele grita cá dentro, ele sufoca nos olhares, ele não sabe onde está, o que mais virá, mas quer...
As unhas, a pele, e os beijos mortíferos em que rebento de mim, e percorro os teus ares, sabores e odores. Os nossos sexo fundidos em ámalgamas de eternidades que criámos...
O amor, o sexo, o prazer, o corpo, o meu corpo, o teu corpo, os orgasmos, os fluidos, a transcêndencia, o não querer libertar, o não me querer soltar, e o regaço que nos acolhe, quando somos um, quando a noite nos embala, quando as velas nos lembram que formas físicas possuímos, que não somos ar...
O telemóvel toca, os olhos abram, o negro regressa por momentos, o lusco fusco dispara perante mim, e o leito já é memória de novo, e o sol brilha lá fora, e o ar estagnado dum dia de Verão devolve-me à realidade.
O amor, o sexo... o eu tocado por ti, o eu moldado por nós, e o nós olhando para nós...
Este texto já é antigo, mas hoje invadiu-me esta sensação tão real de que o corpo actua mesmo como uma metáfora, ele não só actua, ele é, efectivamente uma metáfora...

13 Comments:

  • At 7:55 PM, Blogger Walter said…

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  • At 7:57 PM, Blogger Walter said…

    tu és daqueles escritores que nos conduzem sofregamente por todo o texto, o texto que transborda de ti e de tudo o que és. A busca por mais, não do prazer gratuito e avulso,mas a busca do amor!
    Sinceramente estou siderado com este texto e fez-me lembrar, de algum modo, o que senti quando escrevi o "não em ti". Continua nessa tua busca, sei que não tardará!entretanto pelo caminho conta cmg para o q der e vier!
    desculpa mas desta vez excedi-me no tamanho do coment!
    um abraço silenciado pela magnificência das tuas palavras!
    walter

     
  • At 8:33 PM, Anonymous Anonymous said…

    Ler-te é sempre um enorme prazer :) Um beijo enorme

     
  • At 12:26 AM, Blogger Eli said…

    Potente!
    O que escreves é assim.
    Neste texto eu vi como é que o Amor está patente no corpo em busca de saciar o desejo... a comunicação do toque!
    Sublime!
    Consegui alcançar aguns pedaços de pensamento de quando imaginamos ou revivemos situações com os olhos fechados...
    Foi como tu estivesses a ver um filme de olhos fechados, de situações mesmo tuas!!!
    Tu sabes o que eu penso... e sabes que escrevo o que me sai... assim... na hora!...

    :)

     
  • At 12:27 AM, Blogger Eli said…

    ... ou devias saber ...

    :)

     
  • At 3:23 AM, Blogger DT said…

    Amigo Pedro

    Visito-te novamente, como já o fiz por inúmeras vezes e como certamente farei por muitas mais.

    Visito-te porque sabes escrever, porque sabes pensar, e acima de tudo, porque sabes escrever o que pensas.

    Os teus textos são pesados. Não no sentido fastidioso da palavra, mas pesados porque exigem uma intensa atenção, e porque, acima de tudo, fazem pensar. E isso é o que mais aprecio na escrita.

    Abraço

     
  • At 10:51 AM, Anonymous Anonymous said…

    Olá menino de ouro, adoro o que tu escreves. És um destes poetas, como dizia o Ary dos Santos:

    Original é o poeta
    que se origina a si mesmo
    que numa sílaba é seta
    noutra pasmo ou cataclismo
    o que se atira ao poema
    como se fosse um abismo
    e faz um filho às palavras
    na cama do romantismo.
    ..........................
    Original é o poeta
    que chegar ao despudor
    de escrever todos os dias
    como se fizesse amor.
    Esse que despe a poesia
    como se fosse uma mulher
    e nela emprenha a alegria
    de ser um homem qualquer.
    Beijo.
    Ana

     
  • At 4:15 PM, Blogger Conceição Paulino said…

    um texto de introspecção. Uma busca que tem pontos comuns com as buscas dos outros. Bom f.s. bj de luz

     
  • At 9:46 PM, Blogger Rita said…

    Quanta beleza e perfeição nas tuas palavras, meu querido Pedro, quantos ideais que todos nós buscamos toda a vida, arduamente, até ao ínfimo e derradeiro minuto em que sentimos a vida escorrer-nos por entre os dedos...
    Saudades de ti, das conversas, das cumplicidades, da presença.
    Beijo, poeta*

     
  • At 11:41 PM, Blogger Fragmentos Betty Martins said…

    Olá Pedro

    Tem beleza - tem o querer sôfrego ardente - desejo sem culpa - entrega em rios místicos que só o amor faz correr... enfim tem tudo!

    Parabéns está BELÍSSIMO.

    Beijinhos

    Bfs

     
  • At 2:36 PM, Anonymous Anonymous said…

    A imensidão das tuas palavras. Fortes e plenas. Completas, além do sentir corporal e do sentir psíquico. Além.
    Como balas de vida que ecoam.

    *Beijo*

     
  • At 3:52 PM, Anonymous Anonymous said…

    As palavras dominam-te e fazem de ti um seu servidor.
    E como é bom ver a forma como elas te devoram e te levam a mostrá-las ao mundo.

    Este é um espaço celestial.

    Beijo doce

     
  • At 3:50 PM, Anonymous Anonymous said…

    É sublime ler-te! Não somente ler-te, mas acima de tudo, perder-me nas tuas palavras, nestas sensações que buscas em torno do Amor, e que também me envolvem e fazem-me perder num mundo de imagens e arrepios de pele, quase como uma invasão a ti mesmo e à tua essência. Perdoa-me esta forma como desfruto do que sentes, mas é inevitável compreender-te e perder-me contigo numa quimera criada no momento. És, de facto, lindo! Beijos enormes*** :-)

     

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