Se eu pudesse sair de mim hoje, tal como em outros mil acordares...
Se eu pudesse definir como é belo, forte e sereno o toque da relva na minha mão num dia ventoso, se eu conseguisse dizer-vos...
Como é bom quando num passeio com os meus cães me divago com eles, quando nas folhas soltas numa qualquer corrida me alegro e extasio, se eu me conseguisse explicar, ou pelo menos me elucidar a mim mesmo.
Hoje não quero escrever de melancolias, passado ou nostalgia, hoje quero escrever do presente, porque assim me dita a alma, e não lhe tentando perder o rumo, escrevo conforme ela me dita e como a sinto.
Hoje quero escrever de sorrisos, de alegria, quero ser diferente por um dia, quero por ventura ser quem possivelmente sou quando a sombra do passado e dum futuro não me assombra...
E escrevo, escrevo porque me sinto bem, porque gosto, porque faz parte de mim, não escrevo para agradar a ninguém, não escrevo porque é bonito, belo e humano, escrevo porque eu sou algo escrito com letras que encontrei nas longas ruas que percorri, escrevo porque nas folhas encontro algo mais de mim, encontro o Pedro, encontro a Rita, a Ana, a Ilundi, a Rosa, a Joana, o Bernardo, a Luísa, o Nuno, a minha avó, a minha mãe, irmão, pai, amantes, amigos e desconhecidos, porque na sua cara me encontro e na sua vida resido...
Porque lanço as mãos ao céu por existirem, porque caio perante o solo quando não estão presentes, porque vocés são simplesmente o meu prolongamento aqui, nesta Terra, neste Céu, neste Inferno.
Porque acima de tudo vos adoro, porque com vocés em mim o toque da relva é diferente, divinal e celestial, porque nos vossos olhos encontro o presente pintado em tons duma aguarela especial, porque nas vossas faces encontro cumplicidades, saltos, alegrias.
E hoje canto somente esta minha única alegoria, porque cada música é única, porque cada um de vós é único.
E canto também para vocés que me lêem, porque partilham comigo o meu mundo, porque vos abri as portas, porque confio em vocés, porque sou um sonhador, um utópico, um optimista, porque sou um astronauta vendo nos outros mundos a mesma cor e luz que ilumina o meu Universo, porque hoje sou pirómano e possuidor de fogo de artíficio e faço a festa, e... porque acredito na bondade do mundo e das pessoas, porque acredito que no fundo o amor supera tudo, e simplestemente porque acredito em mim e em vós, e se continuar a ser um mero sonhador então deixá-lo ser, sou eu...
E... se eu pudesse sair de mim... hoje... seria para vos transportar até lá, até a minha pequena Terra do Nunca, onde nunca cresço, onde paro com vocês, onde me encontro e não me desconheço, onde o tempo pára porque assim o queremos, onde com as mãos dadas descobrimos o mais pequeno significado na mais pequena atitude humana.
E sorrimos em uníssono, e olhámo-nos e aceitamos que se neste mundo não há espaço para nós, sonhadores, então há sempre uma alternativa...